terça-feira, 2 de julho de 2013

antena

se existe uma antena dentro da minha cabeça
estou enviando e recebendo ondas impregnantes
só me resta escrever sobre isso

uma imagem se repetinto muitas vezes
em uma velocidade incontável
a mesma pessoa
indo e vindo
no mesmo gesto
o melhor gesto
começa e para sem nenhuma razão
um fragmento captado
parem de mandar isso!

Agora a mesma pessoa
em um filme mais longo
com outros personagens
vários cenários diferentes
muitos figurinos
mantendo o mesmo estilo
a recepção está melhor
até gostei.

Agora estou enviando uma onda
sou eu pensando na tal pessoa
aposto que estou sendo captado
memórias bonitas
momentos íntimos
um carinho infinito!

esses superpoderes...

boneca de pano

ela vai andando 
num cambalear
daquele jeito dela
embolado
sem os olhos

ouvidos atentos
o som enfim sai da minha boca
ela responde 
não prestei atenção
eu queria ver o que ela estava fazendo
com os desenhos do rosto

eu não coseguia ver 
mas eu me lembrava
resolvi falar mais
chegar mais perto 
atrás da lembrança
vi nitidamente
os olhos castanhos

subitamente eu dei um abraço
com gosto delicado
com o tempo contado
na linha entre a vontade e o proibido
na amizade simulada
no crime 

eu vi!
os desenhos!
um sorriso 
um nariz
dois olhos
e muito pano.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

um bem

existe uma nuvem
que sempre acompanha 

mas que nuvenzinha é essa?

ela nem gosta desse sol enjoado
desses pássaros engraçados
deste azul sufocante
das estações com flores
chove ali, chove lá

alegria mesmo é quando esta nuvenzinha
se espalha tanto, tanto
que parece que ela vive dentro e fora
ela mora na sua casa
ela espalha cheiro
ela acompanha o teu sono
te acorda e some

faz tempo que não vejo ela
mas não quero nunca vê-la chovendo
gosto mesmo de ver ela voando
fazendo desenhos bonitos no céu
ela é ótima nisso

dizem que essa nuvenzinha já é velha
mas eu conheci não tem muito tempo
desde então eu vivo com essa idéia
de comprar um balão.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

eu sou um lápis

algo difícil de se entender
já que sou feito de algum pinheiro
e escrevo com a alma
juntamente com um grupo de deuses
que me inspiram

estes deuses se parecem entre si
mas são de diversas estaturas
os chamo de principal, apoio,
abraço, parceiro e isolado.

são capazes de me inspirar
nas mais belas obras de arte,
faço projetos complicados,
poesias maravilhosas,
e até caricaturas hilárias
coisa fútil dos deuses.

mas ando meio desapontado
coisa que os meus antepassados
jamais sentiram
estou largado de lado,
eu e meu amigo laranja,
já que o verde caiu e nunca mais voltou

eu já vi de tudo neste estojo 
lápis de borracha
lápis que mais parece um robô
lápis nojento de roupa transparente
que lambreca de azul é o que mais se vê

mas hoje só tem eu e o laranja,
que coitado, descuidado e desligado
já é metade do meu tamanho
tão jovem...

opa, alguma coisa está acontecendo
está abrindo, veja!
o que é isso?
são deuses mecânicos
onde estão os deuses que conheci?

laranja:
depois de 5 mil anos que já se passou,
eles devem estar em algum estojo.

história de ninar

naquele dia
aquela mulher menina
resolveu ficar acordada

escondida dos pais
viu a noite jamais acabar
viu este infinito tempo esquecido
passando como se fosse proibido
e quando viu um inseto acordado
logo pensou em recriminá-lo

um inseto com tantas asas
muito veloz
zumbia feliz na madrugada
enquanto os pais da menina
zumbiam uma tradicional sinfonia

quantos segredos que há na madrugada
o que há atrás dos olhos?
o que há atrás das portas?
por que tem inseto acordado?
por que tem alvorada de pássaros?

Na idade dos por quês
melhor não ler o livro de trás para frente
bom mesmo é repetir os capítulos
até os olhos cansarem
e o sono vir.

boa noite minha filha.


O homem muito cheio

ontem eu vi um homem caminhando
apressado, suado
com um olhar perdido
estalado como um desenho
um traço inconfundível
era um homem desses tempos

no lugar de chinelos, sapatos
respeitável e engravatado
sofria do mal do litoral
abanando o jornal
desejava que as notícias voassem pela janela
tomara que as letras encontrem uma mente vazia
aquele homem me parecia muito cheio

ele estava em um coletivo
aquele homem dos novos tempos
logo nesses tempos,
que coletivo se tornou um mau adjetivo
um palavrão
no país do esporte coletivo
é bom pros outros, pra ele não.

este homem estava na torcida
naquela da copa de 2014
mas a torcida calada de todos do departamento
era para o relógio da parede do escritório
18:00
hora de chegar na casa individual
arrancar o sapato individual
afrouxar a gravata individual
e deitar no sofá de três lugares
que acaba de ser promovido a individual.

depois de cinco dias
eu vi o mesmo homem
agora de chinelo, sem abanar o jornal
pessoas da família creio eu
circundavam esse respeitado não engravatado homem
mas quando olhei atentamente eu vi
para o meu espanto
o mesmo olhar estalado!

O guerreiro gripado

a gripe está aqui
os olhos inchados
o nariz inchado
no peito a vontade
de saltar mais do que se pode

neste dia
um guerreiro teve vontade de lutar
foi para batalha vestido de gripe
seus olhos lacrimejando
seu rosto maior do que o normal
sua armadura natural
sua vontade de viver

lá fora todos lutam
ninguém é perfeito
problemas fora de si
problemas dentro de si
o avesso me parece a armadura mais dura
nestes dias de horror

a fraqueza vem como força!
quem diria que o guerreiro gripado
na frente de batalha
se despindo de sua armadura sem graça
usaria sua franqueza para vencer

companheiros de batalha
tomados pela coragem desarmada,
se aliaram a loucura do gripado
lutaram e protegeram o desvairado
que gritava e espirrava
lutando em meio a golpes baixos
e rasteiras inimigas

venceram de fato
e naquele tempo e lugar
naquele frio
faleceu o gripado da banal doença
morreu de olhos inchados
e um sorriso estranho
meio sorrindo, meio calado.